O que as crianças pequenas precisam para brincar?
Em artigos recentes, os temas brincadeiras e brinquedos trouxeram à tona questões que continuam na pauta das polêmicas a respeito da infância.
Uma dessas notícias comenta a experiência de um Jardim de Infância da Noruega*, um país com indicadores altos de qualidade de educação. Com a retirada de brinquedos estruturados (aqueles comprados prontos!) da escola, as crianças passaram a usar nas salas caixotes, tecidos, almofadas, mesas e cadeiras, e, nos pátios, somente os aparelhos do playground e a natureza.
E qual foi a reação das crianças?
Além de não reclamarem a falta dos brinquedos prontos e estruturados retirados, as crianças usaram mais a imaginação, transformaram os materiais disponíveis, as brincadeiras duraram mais tempo e surgiram muito menos conflitos, pois as crianças estavam desafiadas, ninguém era dono de nada e tudo estava na fantasia!
O documentário C’est Pas du Jeu (Não é brincadeira) apresentado na primeira edição do Ciranda de Filmes (festival de cinema dirigido à infância, aprendizagem e transformação), mostrava períodos de recreio num pátio de uma pré-escola francesa, onde 100 crianças, de 3 a 5 anos, brincavam num espaço livre. Muito livre! Só eram visíveis alguns bancos, poucas árvores, um brinquedão, paredes com pinturas e mosaicos, as janelas e portas do prédio antigo. Os momentos filmados capturaram seis meses do período letivo, percebidos por conta da mudança de roupa das crianças. Em uma ou outra ocasião, as crianças brincavam com uma bola. E só! Sem sofisticação, sem casinhas de boneca rebuscadas, sem quadras, sem trilha sonora, sem efeitos especiais, sem enfocar a intervenção dos adultos.
Um filme bem objetivo e cru . Mas a intensidade da imaginação, da criação envolvida nos jogos, brincadeiras e nos exercícios das relações entre os grupos de pequenos era tão pulsante que os 50 minutos do filme voaram!
Criança também precisa de espaço livre – literalmente. Ela se desafia, conquista e cresce em espaços internos que os adultos às vezes não percebem, como no jardim da infância da Noruega.
Simplicidade provoca mais criação! Renata Meirelles, do Território do Brincar, aprofundou a questão dos brinquedos não estruturados em sua pesquisa de mais de uma década com a infância no Brasil. Ela conta que percebeu que esses materiais trazem uma reflexão maior, a criança cria muito mais, brinca muito mais e imagina situações que não experimentaria com outros materiais.
Assim, o tempo da criança com os brinquedos não estruturados é outro: ele é mais complexo porque primeiro vem a pesquisa, as descobertas, a apropriação das narrativas do material e, por fim o planejamento e a execução da brincadeira.
Educadores podem coletar diversos materiais acessíveis para suas crianças. Não existe empecílio financeiro, mas é necessário um olhar para pensar nas possibilidades que os mais variados objetos podem trazer. Além disso, planejar as formas interessantes de apresentar: o que combina com o quê? Quais objetos associados podem provocar descobertas e narrativas interessantes? A dica é aprender a mergulhar na brincadeira como fazem as crianças e deixar-se contaminar pela força da imaginação!
Matéria do site: Tempo de creche
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